Reneide Caldeira fala sobre sua história nas artes marciais.
- Júnior Alves
- 14 de fev. de 2018
- 4 min de leitura
Casado com Liliany Domingues e pai de dois lindos filhos, segundo Reneide Caldeira, essa é a parte mais importante do professor de artes marciais. Graduado em nível preto de Muay Thai e faixa preta quinto grau em Karatê. O professor Reneide é fundador da academia Chute Kombat, uma das maiores redes de academias de Muay Thai do Brasil.
A história de Reneide é Inspiradora. Segundo ele, depois que se interessou pelo karatê, logo procurou uma academia para aprender. Mas como não tinha dinheiro para pagar, ofereceu seus serviços: limparia a academia em troca de aulas. Não aceitaram sua proposta. Foi aí que ele teve a ideia de trabalhar engraxando sapatos. Com isso, juntou dinheiro e pagou sua primeira mensalidade, no início dos anos 90. Leia a entrevista e saiba mais sobre a vida deste guerreiro.

Professor Reneide, quando começou a dar aulas?
Em 1996 comecei a dar aulas na cozinha da casa da minha mãe. Minha ideia era ensinar para crianças e jovens que não tinham condições de pagar. E assim fiz. O número de alunos aumentou, minha mãe construiu uma garagem e passei da cozinha para a garagem. Batizei o projeto de Karatê Comunitário. Depois de um tempo, consegui realizar um de meus sonhos: abrir minha academia.
Reneide, você mencionou cadeira de rodas. Como foi essa experiência?
O ano de 1999 marcou a minha vida de uma maneira muito dura. Nesse mesmo ano, venci vários campeonatos: o Goiano, Brasiliense, e o Brasileiro Centro-Oeste, então fui convidado para disputar o “Best of The Best”, de onde sairia o melhor dos melhores. Foi uma competição muito difícil, mas consegui a vitória. Meu sonho era o campeonato Mundial. Devido as minhas vitórias, consegui a convocação para o mundial. Comecei minha preparação, mas meu sonho foi interrompido.
Sofri um acidente de moto que resultou em três fraturas em meu tornozelo direito. Passei por um total de 12 cirurgias. Fiquei um longo período sem poder colocar o pé no chão. Depois de 10 meses, voltei a treinar, mas pouco tempo depois tive dois derrames seguidos. Na época, eu tinha 19 anos.
Como fez para continuar nas artes marciais?
No período em que fiquei internado por causa do derrame, os médicos me disseram que eu não voltaria a andar, então, eu percebi que poderia ser o fim da minha carreira de lutador. Fiquei pensando como eu iria fazer para continuar mesmo estando preso em uma cadeira de rodas. Um dia recebi a visita de alguns alunos e pedi que me lavassem até o jardim do hospital. Falei com eles: vou dar uma aula para vocês agora, eles ficaram meio assustados mais me obedeceram. Naquela ocasião, eu queria saber se seria possível continuar dando aulas. E foi incrível. Exatamente como eu esperava. E sim, poderia continuar. Não era o fim. Fui desenganado por vários médicos, mas nunca deixei aquilo entrar no meu coração. Continuei treinando e dando aulas, mesmo estando na cadeira de rodas. Foi um período muito difícil. Todos os dias, eu pedia para Deus uma nova chance. Levantava e tentava andar. Nunca desisti de tentar. Até que um dia Deus me respondeu. Depois de quase dois anos, pude dar meu primeiro passo.
Como foi o início de sua carreira no Muay Thai?
Eu comecei a treinar Muay Thai a convite de um amigo, Marcelo Alves. Meu primeiro professor foi o mestre Marcelo William. Tive também como mestres, o João Torraca e o Guy Amaral. Esses foram meus únicos mestres de Muay Thai no Brasil. Na Tailândia treinei com os mestres Pairojnoi Sor Siamchai e Manop Yuangyuai. Em 2005, promovi o primeiro evento de Muay Thai em Formosa, cuja luta principal foi entre Renatinho e Alvino – dois grandes lutadores de Formosa. Foi uma grande movimentação na cidade. Desde então, tenho promovido em média seis eventos por ano.

Como você se profissionalizou?
Na Tailândia (país berço do Muay Thai), onde treinei, fiz amizades e me especializei com os melhores do mundo. Desenvolvi duas metodologias de treino: a primeira é o Chute Kombat Performance, voltado para aqueles que buscam qualidade de vida. A segunda é o Chute Kombat Caveira, para lutadores profissionais ou para quem deseja se tornar um. Como treinador, fui campeão com Ícaro Martins da super luta no desafio Brasil X Bolívia em Santa Cruz de La Sierra. Fui também campeão com Maik Pereira, no maior estádio de Muay Thai do mundo, o Lumpinee em Bangkok. Lutamos na China, Estados Unidos e em vários estados do Brasil por onde passamos.
Além dessa academia você tem outras. Onde?
Veja bem. Quando abri minha academia, por ser de artes marciais, as pessoas não acreditavam que poderia dar certo, e muitos me diziam que seria impossível viver de uma academia de lutas. Foi então que ouvi da minha mãe uma frase que marcou minha vida: ela disse que Jesus venceu no deserto e Adão “caiu” no paraíso. E que não é o lugar que vai fazer de você um vencedor, mas a sua cabeça. Não foi nada fácil, mas tenho orgulho em dizer que venci na vida, em minha cidade, que amo. A matriz da academia Chute Kombat é aqui em Formosa. E temos filiais nos Estados Unidos, Bolívia, Ceará, Mato Grosso, Maranhão, Paraná, Pará, Bahia, Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal.

Onde você pretende chegar?
Ao longo da vida conquistei tudo aquilo que desejava. Tenho dois filhos lindos e uma esposa maravilhosa. As artes marciais, meus alunos, academias. Tudo isso é uma vitória pessoal que valorizo muito. Minha academia nasceu de um projeto social e nunca perdi esse desejo de sempre alcançar mais e mais pessoas por meio do esporte. Tanto que mantenho esse projeto até hoje. Olho para a frente e é isso que vejo: o resgate de jovens, adolescentes, e até adultos, muitas vezes perdidos em drogas, crime, mas com possibilidade de mudança. O esporte pode transformar a vida das pessoas, mas, infelizmente, não são todos que têm acesso. Esse é meu projeto daqui para a frente: continuar levando as artes marciais para comunidades carentes, escolas. Quero leva-la àquelas pessoas que nem sempre tem dinheiro, mas tem vontade.
Por que os nossos leitores deveriam acreditar em você?
A confiança é conquistada aos poucos, com o bom exemplo, com caráter. Posso dizer que ao longo da minha vida, sempre me esforcei para ser leal, honrado. Preguei sempre o respeito, a lealdade e a educação. Esses são e sempre serão os pilares da minha vida. Quem me acompanha de perto sabe disso. E quem está me conhecendo agora, terá a oportunidade de descobrir.
Comments